sábado, 31 de maio de 2014



em todas as entradas
que permanecem
abertas do corpo
sou dessas
desflorada
pelo jazz
música que
pelos poros
se adentra.
e no começo da noite
de dança embriagada
embalo
os pés
aos ruídos
do piano
que me toca inteira
ao som do improviso.

https://www.youtube.com/watch?v=ne8XQRBm_Gw

quinta-feira, 29 de maio de 2014

gosto de me recolher
e no silêncio
ser levada
ao som
do que movo
por dentro

vozes
motores
órgãos
nervos

há muito
o que se ouvir
em silêncio
quando a memória
gira
acordada

conversa
nua
íntima
e velada.


para Fernando e sua tabacaria


para aqueles
donos de minhas palavras
não ditas
de suspiros
soltos em versos
volto
repleta
por tua escrita
poeta
a todos os encontros
sagrados
que marco
ao desconhecido
por ti
sou achada
presa
em tuas entrelinhas
tecidas
em minha língua,
a qual, por ser tímida
escondo
em tuas facetas
de pessoa.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

dos pés
até a boca
o que sustenta
os ossos
e a pele
é toda a altura
que sem asas
percorro.

como o verbo
escorrido pelo suor
com os dedos
desenho
a paisagem
da janela

vejo o instante
presságio
de meu voo.
miragem
reflexo
ao meio
lá sou perto

aqui
respiro
distante.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Fulgor

ontem
prenha de luz
banhei os pés
de sol
em caminhos
de sombras
alastrando
outros focos
em pegadas
como se fosse
apanhar os céus
todos furados
por meus dedos
e fúrias
enjauladas
que solto à meia luz
repletos
do maior azul
parto
gritando
a gravidez ensolarada
para banhar
o espaço
do caminho
que segue até o horizonte
e de amarelo
toda banhada
sinto o êxtase
e me calo.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

por uma má educação

Fui educada para ser uma boa menina. Desde cedo nos ensinaram as diferenças entre as boas e as podres laranjas. Nos foi passado as maneiras de andar, falar e sentar.  "É preciso manter as pernas fechadas e ter postura."
"Ninguém suporta faladeiras."
"Gostamos de sorrisos."
"Cara feia é de fome."
Tem quer ser bonita e bem penteada, sem muito cabelo ou pelo fora do lugar. "Que coisa feia uma menina tão bonitinha com a boca tão suja".
"E olha bem como se veste, nada de exageros".
"Não saia descoberta, assim não tem respeito."
Dizer não com os dentes cerrados por um sorriso engolido é negar a boa educação. Correr até o limite é quebrar o muro que edifica a "boa moça".
As "más filhas" escolhem os caminhos ainda inabitados. Ardem em suas próprias dúvidas diante do desconhecido.
Há ainda aquelas que se atiram no escuro dançando em furacões, e giram.
Porque a visão é afetada agudamente na pele. E o fedor de certas angústias engolidas por tantas bocas crescem em cada casa, sala de aula, ou recanto onde nada mais pode ser tapado. E por isso exala tóxico.
Encontramos os riscos de uma "má educação", a qual não aceita rédeas e que por isso muitas vezes se espatifa. E retorna, como uma "boa má educada". Segura e trêmula por suas quedas e voos.
Deliciosas vertigens.
É que eu desejo que as boas filhas cuspam o gosto do verbo para dizer "não" de forma pura, para que este salte dançando livre de suas línguas, a fim de perturbar as bocas, os ouvidos e os olhos tapados.


sexta-feira, 2 de maio de 2014

"redemoinhos violentos que revolvia de antemão suas fibras"



" redemoinhos violentos que revolvia de antemão suas fibras". reler os escritos de Artaud é como reencontrar uma parte adormecida no corpo. uma voz solta e trêmula perdida nas entrelinhas. um soco roxo que doía, mas que agora só permanece em marca. um olhar dentro das raízes da alma. há algo que é tão nosso, mas que é esquecido. e deixamos lá em algum canto, empoeirado entre o osso e o nervo, que só depois de contorcido volta a gemer. por que esquecemos o gosto? o cheiro? onde metemos tudo? e depois soltamos, de uma vez só. assim, dedo na goela, vômito.

e lembramos-nos.
reencontramos-nos.
...

parece que somos íntimos e estranhos a nós mesmos.  e que é somente por meio da torção da pele do outro, que encontramos a nossa. curioso paradeiro,  uma espécie da catarse às avessas.