quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Antropofagia

correr fundo
tocar-te
por inteiro
como se pudesse
apalpar o mundo
por tua boca
peles
pelos
ultrapassar
os poros
cheiros
torna-me-ia
parte de ti
e tua
carne
seria minha
em
com
partilhamento
ou in corpo
ração
seria tu, eu
e tudo
num só momento.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

escrevo
pois sei que me lês
em segredo
no quarto
silêncio
desfolha
as palavras
do verso
apalpando
com olhos
minha história
sem a tua
reverso
do gosto
de minha pele
que agora pulsa
sem mais memórias
tuas.
escrevo
e minto
enquanto lês minha confissão
em teu lugar mais íntimo
olhos de voyeur
mastigação
sou a escrita
mulher
de tua imaginação.




eterno retorno.

eu
que fui
e já não sou

eu
que venho
e  vou

ela
a que para
e continua

ambas
todas
em mim
criaturas

vagueiam
por meu corpo
hospedeiro

de tantas
sou uma
muitas
todas
minhas
tuas
e quando sentir o outro cheiro
que não meu
exalando da pele até os ossos
selarei
breve as palavras ditas
em meus pelos
como se guardasse
a saliva
dentro do corpo.
em banho intenso
lavando
os órgãos
ossos
despregando
o cálcio
retorcendo nervos
tornando limpo
e claro
o que trazia
no escuro
teus passos
tua sombra
meu refúgio.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

serei breve
indolor
não revelarei
os versos que
guardo junto
ao seio
e a respiração
passo somente
como um presságio
de minha poesia
errante
mastigada pela saliva
que molha o corpo
em absorção
quente
de tua língua
em minhas letras
que secam sem cheiro
aterradas ao papel
e a pele
ânsia
sede
da palavra
consumida
até o sumo.


quarta-feira, 6 de agosto de 2014

tessituras
de poesia
noite à dentro
em teu bucho
de estrelas
que perfuro
com as unhas
e entro
brilhando
ardendo
em sua luz
e breu
de lua
eu,
extasiada
de longe
nas alturas
vejo as palavras
abertas
como flores
e traço
as fissuras
os espaços
respiro
toda graça da pausa

...

e depois retorno
para o poema
em silêncio
iluminada