sexta-feira, 29 de junho de 2018




intermitentemente,
o seu cheiro me toca como um abraço
e tento entender porque ele ainda me surpreende
em tentáculos
se já o conheço
tão bem
em meu corpo
tato
parece que ainda é visita
apesar de já se sentir em casa
é o que faz os minutos da paixão
gozo
felicidade
que a mim foi endereçada.
quando já não esperava a sua vinda
tão bem-vinda
eu
solitária em minha concha
marinha
abri minha carcaça
para morar com você
em nosso mundo.
ilha.
só por nós,
habitada.
porque ouvi dizer que "todo casal é uma ilha"
e eu e você
nesse encontro
nos molhamos.
no mergulho,
não existe portas de saídas.
seremos amor
água-viva
de sal, água, vida
e poesia

segunda-feira, 19 de março de 2018

Volto os olhos para outro horizonte. Lembro das velas, do corpo de Marielle que velei de longe.
Sinto. Sinto novamente. Abraço todos brasileiros que sentiram seu luto.
Tento ver esperança. Quero acreditar e buscar em outro lugar uma fuga. Uma irrupção. Uma força que rompa com esses caminhos fechados. Que vingue em outras rotas: para além. Quero arranhar o solo até chegar a semente da força. 
Tocá-la. 
Acariciá-la. 
Deixar que ela vingue com mais potência. Soprá-la. Para fazer voar longe.
Essa semente/fé.
Pode ser que assim ela brote novamente
em nós. E novamente.
Novamente.
Sempre





sábado, 27 de janeiro de 2018



quem sou eu quando não escrevo poemas?
habito um longo hiato
residindo nele para escrever sobre burocracias,
academia
lista de compras,
para onde vai a minha poesia
quando não a escrevo?
imagino-a saindo por aí,
sozinha
enquanto, aqui, só imagino seu passeio
que roda na mãos de outros poetas
sim, me desculpo pela falta de tempo
ou cuidado
mas vá, voe sempre
volte quando quiser
para fazer de mim
sua casa.

assim como uma janela
também tenho minhas frechas de luz
memória
que abro a cada dia, sol, vento
para dançar com poeira da rotina que insiste em bater em meu cansaço
que eu danço
quando meu corpo enverga como um ganho
faço de tudo música
para desconversar as insatisfações com o mundo
tão irremediável
imparável
faz de mim uma retardatária  sempre correndo atrás
inalcançável  tempo
não te faço de inimigo
uso-te como o tempo das plantas
que rego dia sim, dia não dependendo da umidade
é que ta chegando o verão e eu coloco vestidos
e já não confundo mais o cansaço com a falta de tempo
porque dele faço dança
e meus pés flutuam nas nuvens
que vejo de meu apartamento
pisando suave aos das buzinas, daqueles que querem falar mais alto
vencer
ir de além ti tempo
na verdade, gostaria de pensar em quem está em outro lado
buscando na rotina fugas diárias
encontrando o amor no ponto de ônibus
nos encontros imprevistos que a vida nos proporciona
subvertendo delicadamente com poesia a sujeira do mundo
optando por sorrisos, afagos e café quente
para aqueles que esperam, assim como eu, a melhora do tempo
dos dias, da rotina, e dos noticiários,
que dançam quando se sentem cansados e encontram o amor
na paisagem do inesperado.
é porque todos amam, de um jeito ou de outro, só se esquecem,
ou não sabem.